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Exposição Interseções
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"Interseções" / Espaco Movimento Contemporâneo Brasileiro (EMCB) - RJ

A condução da percepção

“O que aprendemos de fato ao considerar o mundo da percepção? Aprendemos que nesse mundo é impossível separar as coisas de sua maneira de aparecer.”

Merleau-Ponty, Conversas 1948, pg 56

É possível pensar o trabalho de Bettina Saboia a partir do deslocamento e apropriação que ela opera a partir da manipulação escultórica de elementos constitutivos da instalação hidráulica e elétrica.

Materiais básicos de construção, retirados de seu contexto e desprovidos de sua função, servem à artista como propulsores de processos artísticos. Propulsores pois são os próprios tubos de pvc e conduites que a partir de seus desenhos e elasticidade conduzem à forma final das esculturas de Saboia. Curiosamente, esses elementos pragmáticos, concebidos no âmbito da engenharia civil para conduzir água e energia elétrica, ganham em “organicidade" através da fluidez intrínseca ao trabalho da artista.

Dar a ver esses elementos estruturais básicos se alinha a uma arquitetura despida que se consolida no contemporâneo como modo de reduzir custos e como paradigma estético. O esforço para “esconder” tais materiais passa, portanto, a ser uma vontade de apropriação dos mesmos, uma vontade de evidenciar e testar esses objetos sem a premissa invariável de sua função. A junção do  conduite com tubos de pvc hidráulicos, por exemplo, produz um campo de contato antes impossível. Água e eletricidade certamente não ocupariam o mesmo espaço mas, em contato, os materiais responsáveis por ambos respondem, um ao outro, sem nenhuma resistência.

Esse circuito, fruto da apropriação de Bettina Saboia, instaura um novo campo relacional entre esses elementos antes fadados a distância imposta pelas normas de construção. A partir dessas linhas e curvas geradas pelo encontro dos dois materiais se produz uma forte condução do olhar. As direções se cruzam formando sistemas ao mesmo tempo simples e labirínticos.

Tanto o deslocamento contextual quanto a dinâmica escultural do trabalho aparecem então como provocadores perceptivos. O que Merleau-Ponty observa no trecho acima é que o poder  da representação está entrelaçado às formas de aparição do objeto. “Como” enxergamos é tão relevante quanto “o que” enxergamos. É a tomada dessa perspectiva que conduz a produção dos trabalhos da exposição “Interseções” de Bettina Saboia.

​© 2016 Bettina Saboia. 

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